No restaurante
Entre papos e papos de um restaurante no horário do almoço, me detenho a uma conversa paralela. Sem perceber muito a conversa da pessoa ao meu lado, percebo que o papo lateral parece mais curioso.
Um falante. Outro ouvinte.O que falava (sem parar) parecia cansado, de saco cheio de alguma coisa; pelo papo, de sua correria. Que cá entre nós, nos dias de hoje, é de todos nós. Mas explanava sobre a possibilidade de ser rico, muito rico. De poder vir a ser até um milionário se quisesse. A fórmula. Trabalho. Muito trabalho de sol a sol, de domingo a domingo. Sem hora. Sem escolha. Sem a menor chance de saber se no Natal, por exemplo, estaria ao lado de sua esposa e de seu filho pequeno. Sem saber se em algum momento poderia tomar a lição dele. De buscá-lo na escola.
O ouvinte, apenas ouvia. Incrível, mas não esboçava uma reação, uma opinião. A que por todo instante o falante lhe dava. Ao dissertar sobre o poderia torná-lo um milionário, parava, pensava, dava uma garfada em seu prato (que a propósito, era para foto de consultório de nutricionista) e ao mastigar, lentamente, chegava as suas próprias conclusões. Que também não cansava de discorrer ao seu amigo ouvinte.
Concluiu: de que me adianta ser milionário, ter todo o dinheiro do mundo, ter de bens materiais todos os que sonho, se ali na frente tenho certeza de que vou me arrepender? Não sei se teremos mais filhos, porque os tempos são difíceis. Mas e se for apenas este e eu não puder vê-lo crescer, não puder acompanhá-lo em suas experiências.Como farei o tempo voltar? Claro que com mais dinheiro poderemos ter mais filhos e frouxo, mas de que adiantaria se nem mesmo para este segundo filho eu teria tempo.
O papo continuou, e acredito eu que por muito tempo. A comida no prato continuava quase intacta. E o ouvinte? Incrível. Continuava comendo sem parar e se tecer um comentário.
Levantei, terminado nosso almoço para irmos embora. Aquilo não me saiu da cabeça. A alegria, primeiro pela percepção de que essa vida é uma só e deve ser vivida aqui, agora. A alegria por ver que as pessoas nos dias de hoje parecem estar mudando. Parecem estar voltando a ter valores de vida. Será? Tomara. Não espero que alguém abdique de sua carreira, de sua possibilidade de se tornar milionário. Jamais. Mas pense bem se essa sua “fome”, essa sua voracidade em torno de sua carreira, da busca desenfreada por coisas materiais, não está lhe levando para um buraco escuro. Sem amigos, sem pessoas, sem diálogo, sem o contraditório. Pense se a sua vida não está apenas passando e quem sabe aí você lembre.....se ela passar tão rápido a ponto de não vê-la passar, terei tempo de gastar todo aquele dinheiro pelo qual sempre lutei? Não deixe sua vida passar. Também não acho que devas deixar tua carreira de lado, tuas ambições no fundo do baú.
E é exatamente aí que quero mais uma vez chegar....todo o EXAGERO, faz mal. Começam a entender quando falo no tal exagero que seja para o bem ou para o mal, para o bom ou para o ruim, como faz mal?